quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

I'm low

Já tô é cansado disso tudo! Queria ser pobre por um dia! É, porque exercer essa árdua função não é fácil, moçada! Todo santo dia útil, é aquela dificuldade para abrir os olhos, apertar o botão do meio do celular para que o despertador se cale, tomar aquele café da manhã, ir para baixo do chuveiro cantarolar e... ônibus circular! A corridinha de alguns metros para não perder aquele que vem virando a esquina quando você acaba de encostar o portão é sagrada! Aí já embarca na Mercedez suado da Silva!


Chega no centro da cidade, parece que você vê todas as mesmas pessoas, nos mesmos lugares, no mesmo horário, todos os dias. Vulgo "rotina". Aquele sol, e um calor que mais aparenta o deserto do Saara do que qualquer cidade do interiorrrrr. Caminhando, você encontra de tudo, desde pessoas apressadas, que tropeçam no chão e quase te dão um abraço caloroso, até outros (muitos) panfletando. Crianças chorando. Menininhas conversando sacanagem. Idosos jogando carteado ou dominó na praça. Por isso que eu amo a diversidade social! rs


E olha que eu ainda tenho a grande sorte de trabalhar em um lugar que eu gosto, onde eu possa dar muita risada, trabalhar calmamente, sem pressão e alguém respirando em sua nuca, e me relacionando com pessoas diferentes a cada dia. O problema é o "after". Mercedez. Rush time. Todo-mundo-querendo-ser-uma-sardinha-enlatada. Transito caótico. Suor em forma de catarata. Briga para ver quem fica com o assento disponível, e uma oração para que não chegue nenhuma mulher com criança ou uma pessoa idosa. Quanta podridãoooooo!




Ainda não é o caso, mas em um futuro bem próximo (menos de 1 mês), as aulas retornam. Aquela-mulecada-wannabe-monkey, que não para de ficar gritando pro coleguinha que ficou lá do lado da roleta, perguntando qual o card que ele tem repetido. A lata fica ainda mais apertada. E o pior: a linha sempre demora mais pra chegar no meu ponto de desembarque, e eu, lindo, vou ter, aproximadamente, 20 minutos para tomar banho, trocar de roupa, esburrifar um perfume em mim, pentear meu cabelo de caracóis, escovar o dente, arrumar a mochila e... ser o primeiro da linha da van que me leva até a faculdade; ou seja, mais uma horinha sentadinho, perambulando pela cidade, pegando rodovia e indo até a universidade. 


Por volta de 23:45, estarei eu, down, tired, bored, chegando em casa. A internê é de lei. Mais de 00:30, no mínimo, me direcionarei pro meu aconchegante berço. 09:00 "bééééééééé!" Cala a boca, despertadorrrr! E durmo mais uns cinco minutinhos. Quem manda pertencer à Low Society?

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O casamento





Todos estavam devidamente paramentados. Aquele alvoroço costumeiro da ocasião já se desenhava, e os convidados sentiam-se ansiosos pelo momento em que a noiva entraria. Estavam loucos para descobrir qual a grife usada por ela e como seria o desenho do tão aguardado vestido, afinal, armou-se um suspense surpreendente para a escolha e elaboração do projeto.


Alguns rostos soavam estranho para o noivo, este que acessara um estado de nervosismo desde o dia que antecedera a cerimônia. Estava trêmulo, sentia uma vertigem ao pensar que aquela era a decisão da vida dele, e que bastava um "sim" para que o futuro dele começasse a ser rascunhado. Agora, já poderia ser anunciado como Senhor "Família-Y".


O trabalho para a decoração e preparação de todos os detalhes da cerimônia e da festa fora executado da melhor maneira possível, tendo a intervenção de um dos mais entendidos na área (ele, que era amicíssimo da noiva).


Quanto a ela? Sublime! Não há adjetivo que possa descrevê-la fielmente. Levando em conta que ela era uma pessoa muito conhecida em todo o povoado, era preciso que o evento fosse mesmo inesquecível para todos os participantes e, principalmente, que ela fosse digna de ser aclamada de "Rainha do Povo"! Seus traços físicos sempre foram pouco valorizados, porém, o alfaiate responsável pela criação do vestido executou, realmente, um trabalho nobre, digno de uma premiação mundial. Suas curvas foram todas contornadas pelo tecido macio e cheio de bordados, com alguns detalhes em vermelho-rubro, como o babado na cintura e na parte inferior, bem próxima ao fim do vestido. A sapatilha que selecionara era da mesma cor que os detalhes do vestido, com alguns detalhes em relevo, que concediam ao calçado uma aparência moderna e ousada. Ela usava uma pequena coroa, com algumas formas triangulares, que remetiam a uma coroa de espinhos, toda em prata e brilhantes.


A orquestra já se preparava para iniciar, todos em posição para a execução da Marcha Nupcial de Lohengrin, que fora rigorosamente ensaiada durante um bom período, e tivera a inserção de alguns arranjos inovadores, pensados pela equipe responsável de planejamento  da cerimônia, e acolhido de forma calorosa pelo maestro, que achou a idéia a altura da importância daquele evento para todo o povoado.


- Diga-me, Eric, como sente-se vendo tudo aqui, frente ao seus olhos, a um passo de que convertam-se de planos para memórias? - perguntou um dos padrinhos, que crescera junto com o noivo e experimentara diversos momentos de alegria em parceria com ele.
- Estou hesitante, Gustavo, muito apreensivo com tudo. Afinal, foram cinco anos ao lado dela, com noites longas pensando e prevendo esse dia, esse momento - respondeu.
- Desculpe-me a intromissão, mas conte a esse seu amigo... qual a posição preferida de vocês dois?
- A minha é DVD: Deita, Vira e Dorme! - e caiu em gargalhadas. Só você mesmo para tirar um pouco da tensão que venho saboreando nesses últimos dias! - completou.
- Amigos são para isso, meu caro! Só não venha me pedindo bufunfa emprestada, porque você correrá sérios riscos de se contaminar com a minha doença crônica de falta de dinheiro! - risos. E claro: em hipótese alguma me chame para te salvar de encrencas com a sogrona, pois eu tenho fobia à essa raça! - mais risos.
- Negócio fechado, amigão! - e eles se abraçaram.


O casal havia se conhecido em um dia peculiar daquela região, tomado por nuvens que atribuíam ao ambiente uma aparência rude, até um tanto intimidadora. A sensação do clima era de que podia-se contar no termômetro uns 18 ºC. E no cair da noite, sem nuvens, a sensação térmica era de alguns graus a menos. Eric adorava aquele tempo, toda aquela estação, para ser mais sincero. O inverno promovia a beleza das pessoas, com uma palidez no rosto e a pele seca, todas emaranhadas e refugiadas em suas vestimentas espessas.


Ela sempre o atraíra, foi a conclusão que chegara desde o primeiro instante que a mirara. Tinha a certeza de conhecê-la de algum lugar, pois seu semblante lhe soava muito familiar. Talvez fosse alguma amiga próxima de algum de seus amigos; uma conhecida, quem sabe. Mas aquele rosto que fugia aos padrões, tendo alguns ângulos meio quadráticos, sempre fora seu favorito. Aquele queixo com uma pequena cavidade. Pele clara. As maças do rostos delicadamente protuberantes e coradas. Os fios de cabelo bem finos e um pouco embaraçados, arranjados de uma forma que convertia o conjunto capilar em uma obra de arte. Sempre um sorriso enviesado, demonstrando sua personalidade um tanto reservada e hesitante. Decidira que ela seria sua rainha. E agora, nesse exato momento, aconteceria a cerimônia de concessão da coroa! Isso já justificava todo o seu estado de temor.


E foi o som dos trompetes que recobraram a lucidez dele, o noivo, que começou a se sentir um pouco com falta de ar. Via o pai da moça, todo feliz por estar levando sua bonequinha para o altar. Sempre admirara o seu genro, e Eric se sentia muito honrado por isso. Mas havia algo de errado. Sim, algo de muito errado. A cada nota da canção da Marcha Nupcial, ele sentia uma pontada em seu peito, bem na região de seus pulmões. A falta de ar se manifestava e impunha-se cada vez mais. Um Sol em Quarta, e ele sentia que seu Smoking começava a definhar-se, grudando mais a cada segundo em sua pele, sufocando o coitado. Dó Menor... estava a ponto de ser estrangulado. Lutava insistentemente para acabar com aquele terrível fato, mas sua inquietação tirava ainda mais o pouco ar que se mantinha armazenado em seus pulmões, diminuindo muito suas chances de sair com vida daquele desastre. 


Começou a gritar, mas ninguém o ouvia. Contudo, sentia que uma mão tocava-lhe as costas, mas se frustrava por não conseguir enxergar ninguém ali. Foi quando deu um berro estridente, que feriu até seus próprios tímpanos, então, que ele recobrou a consciência. Estava deitado, todo perdido nos lençóis de sua cama. O pesadelo fora assustador, pois apresentou várias sensações que ele tinha certeza de sentir em sua pele. E sentira. Sua respiração estava pesada. Para conseguir dizer algumas palavras, lutara muito, pois sua garganta parecia uma corda com um nó gigante no meio. E a dor no pulmão, como um pistão direcionado em seu peito, sufocando-lhe. Suas narinas estavam inundadas, quase o afogavam.


Ele soubera, então, que a Senhora Gripe, já conhecida dele, instalara-se ali, no templo do seu corpo. Sabia que ela era a moça que lhe atraía tanto e decifrara de onde houvera conhecido-a. Mas agora era tarde: estavam casados! Faziam parte um do outro, sendo apenas um. Foram considerados Marido e Gripe. Eric acessava um estado de melancolia todas as vezes que erguia levemente seu pescoço do travesseiro e via ali, no seu dedo, o brilho da aliança dourada. Coff! Coff! O que eu fiz para merecer-te, caríssima dama?! - pensou, e rendeu-se ao tédio da enfermidade, beijando sua amada.


*****

Minha gripe está partindo, colocando-me de novo em minha solteirice alternativa - ou condicional. Isso tudo foi uma forma de querer dizer a vocês que eu fiquei dodói por alguns dias. Gostaram do meu Eu-Autor-Literário-Best-Seller-Wannabe-Augusto-Cury? rs Levo jeito? Por favor, não me iludam! Eu sei que ficou muito bom, e não aceito críticas, nem mesmo construtivas! rsrsrs